Líder do União Brasil na Câmara rejeita convite de Lula e expõe fissuras no partido; decisão gera mal-estar no governo
A recusa de Pedro Lucas Fernandes (União-MA) em assumir o Ministério das Comunicações, apesar da indicação do próprio partido e do aval do presidente Lula, gerou forte desconforto no Palácio do Planalto e expôs as divisões internas no União Brasil.
A decisão de Pedro Lucas foi tomada após reunião com o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), figuras centrais na articulação partidária. De acordo com fontes do partido, a principal razão foi evitar um cenário de instabilidade dentro da legenda caso ele deixasse o posto de liderança na Câmara.
Em nota oficial, Pedro Lucas agradeceu o convite, mas justificou a recusa dizendo que acredita poder “contribuir mais com o País na função que exerço na Câmara dos Deputados”. A declaração, no entanto, não amenizou os ânimos no Planalto.
PLANALTO SURPRESO E DESAGRADADO
Fontes próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelaram que a atitude de Pedro Lucas foi vista como um gesto de desrespeito, sobretudo após o anúncio público feito pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, confirmando a nomeação do deputado ao cargo.
A irritação no governo é tamanha que há quem defenda uma reavaliação do espaço ocupado pelo União Brasil na Esplanada dos Ministérios. “Foi uma exposição desnecessária”, comentou um auxiliar próximo ao presidente.
BANCADA DIVIDIDA E RISCO DE CRISE INTERNA
O União Brasil está dividido. Segundo levantamento feito pelo Estadão/Broadcast, ao menos 25 dos 59 deputados federais da legenda eram contrários à ida de Pedro Lucas para o ministério. Entre os mais entusiasmados com a nomeação estava o senador Davi Alcolumbre, que tem buscado aproximar o partido do governo.
A possível saída de Pedro Lucas da liderança poderia abrir espaço para um deputado mais alinhado à oposição, o que preocupa tanto o Palácio do Planalto quanto setores moderados da própria sigla.
TENSÕES ANTIGAS E O FANTASMA DA “DESUNIÃO”
Desde o início de 2024, o União Brasil tem enfrentado dificuldades para manter a coesão interna. A escolha de Pedro Lucas para a liderança, ainda no final do ano passado, já havia provocado divisão. Em reunião da bancada em dezembro, o deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA) alertou: “Não queremos voltar a ser a piadinha dos deputados, quando éramos chamados de ‘Desunião Brasil’”.
A legenda também tem adotado posições contraditórias em relação ao governo Lula. Foi o partido do Centrão que mais apoiou o requerimento de urgência do projeto de anistia aos presos do 8 de Janeiro, gerando atrito com o Planalto.
INCERTEZAS SOBRE O FUTURO DA PASTA
Com a recusa formal de Pedro Lucas, o futuro da pasta das Comunicações volta a ficar indefinido. O nome do ex-ministro Juscelino Filho, que deixou o cargo após ser denunciado por corrupção, volta a ganhar força nos bastidores, com o apoio explícito de Alcolumbre.
Enquanto isso, o governo enfrenta o desafio de rearticular uma base já frágil no Congresso, tentando evitar mais desgaste político e reforçando a urgência de estabilizar as relações com partidos do centrão.