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Mulher registra BO após morte da mãe na UPA Maracanã; Secretaria de Saúde nega irregularidades

Na última sexta-feira, 14 de agosto, a cuidadora de idosos Joelma Aparecida Henrique, de 41 anos, faleceu na Unidade de Pronto Atendimento do Alto Maracanã. Segundo informações colhidas junto a pessoas ligadas ao pronto-socorro, a vítima teria sofrido um mal súbito. A família de Joelma, porém, contesta a versão e aponta negligência no atendimento. 

Nesta quarta-feira, 19, a filha de Joelma, Graziele Aparecida de Jesus Pinto, registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia Civil da Sede. No documento, Graziele relata que no início da tarde de sexta, acionou o SAMU, pois sua mãe apresentava falta de ar, pressão baixa e que estava com as vistas escurecidas. 

Ainda de acordo com o relato, Joelma foi levada de ambulância para a UPA do Alto Maracanã e que às 14h50, uma médica entrou em contato com Graziele para informar que a paciente estava em situação estável e teria alta por volta das 19 horas. Às 15h15, entretanto, um outro médico contatou Graziele informando a morte de Joelma. Também no boletim, a filha da vítima afirma que os exames particulares levados com a mãe, incluindo um teste negativo de Covid-19, não foram devolvidos à família, e que o prontuário médico da paciente não foi disponibilizado. 

Nossa reportagem conversou com Graziele, que reafirmou as informações do boletim. Ela relatou que Joelma passou uns dias sem comer direito, mas que não tinha histórico de doenças, ou qualquer condição crônica e alega ter sido humilhada por funcionários da UPA. 

Saúde nega irregularidades

Nossa equipe de reportagem entrou em contato diretamente com o secretário de Saúde, Dr. Antoninho Barth. O secretário relatou que em investigação interna preliminar, não foram encontradas irregularidades nos apontamentos de atendimento. 

Em contato com outras pessoas ligadas à Unidade de Pronto Atendimento do Alto Maracanã, apuramos que o entendimento da equipe médica presente no momento do ocorrido também é de que não houve irregularidades. De acordo com uma fonte consultada, a paciente não possuía comorbidades, com exceção de sobrepeso. Segundo o relato, Joelma só se queixava de tosse e falta de ar, quando acabou tendo uma parada cardiorrespiratória. Foram 40 minutos de tentativa de reanimação da paciente. 

Ainda de acordo com a mesma fonte, uma das possíveis causas da morte súbita teria sido uma tromboembolia pulmonar. Segundo um texto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, a tromboembolia pulmonar “é uma das principais causas de emergência cardiovascular e, em cerca de 25% dos casos, a manifestação clínica inicial é a morte súbita”. 

Outra reclamação da filha da vítima é de que a UPA se negou a encaminhar o corpo para o IML (Instituto Médico Legal). Segundo a fonte consultada pelo Jornal de Colombo, o IML só recebe corpos de vítimas de crimes violentos ou após pedido expresso da Justiça.

Polêmica da Covid

Entre as situações contestadas pela família de Joelma, está o fato de que no atestado de óbito da vítima, estaria a informação de que a morte poderia ter sido causada por Covid-19. De acordo com a advogada Josleide Zordenones, representante da família, a informação não procederia, pois o exame entregue à UPA, realizado no dia 10 de agosto, aponta resultado não detectável, ou seja, de que ela não estaria com a Covid-19. 

De acordo com a fonte consultada pela nossa reportagem, inserir a informação de 'suspeita de Covid-19' a uma morte como esta, quando o atendimento inicial já foi de suspeita de infecção pelo novo coronavírus, é padrão. E que, como o próprio nome já diz, é apenas uma suspeita, e não confirmação.

Nossa reportagem também teve acesso a uma segunda via deste exame. Em nota técnica, destacada no exame, “o Ministério da Saúde recomenda que a coleta de amostras seja feita até o sétimo dia após o início dos sintomas e que resultado não detectável em amostras coletadas após este período, não exclui a possibilidade de infecção por Coronavírus (SARS CoV-2)”. De acordo com o exame, o início dos sintomas teria acontecido após o dia 10 de junho. 

Segundo uma nota técnica da SBAC (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas), um único resultado não detectado para SARS CoV-2 não exclui o diagnóstico da Covid-19. A nota afirma que “vários fatores como coleta inadequada da amostra, tipo de amostra biológica, tempo decorrido entre a coleta e o início dos sintomas, e oscilação da carga viral podem influenciar o resultado do exame”. No documento, a SBAC destaca que “sempre que houver discordância com o quadro clínico epidemiológico, o exame de RT PCR deve ser repetido em outra amostra do trato respiratório”. 

O exame do tipo RT PCR foi o realizado por Joelma. Segundo o exame, o material coletado foi do tipo ‘swab naso-orofaríngeo’. De acordo com a SBAC, esse tipo de material tem sensibilidade de 32% a 63%. 

Próximos passos

Entre as motivações para o registro do boletim de ocorrência, está a solicitação da exumação do corpo de Joelma para investigação da causa da morte. “Fizemos o boletim de ocorrência pela suspeita de uma negligência médica e peticionamos ao delegado a exumação do corpo”, explicou a advogada Josleide Zordenones. Agora, a Polícia Civil deve solicitar ao Ministério Público uma autorização para a exumação. “A família precisa saber qual é a causa mortis”, encerrou.

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Redação JC

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