Filha de Dorival Caymmi e dona de uma das vozes mais marcantes da MPB, artista estava internada desde agosto de 2024 tratando arritmia cardíaca

Morreu nesta quinta-feira (1º), aos 84 anos, a cantora Nana Caymmi, internada no Rio de Janeiro desde agosto de 2024 para tratar uma arritmia cardíaca. Herdeira de uma linhagem musical histórica, ela deixa um legado de interpretações emocionantes e de fidelidade à essência da música brasileira.

 

Dinahir Tostes Caymmi nasceu para cantar. Filha da cantora Stella Maris e do compositor Dorival Caymmi, um dos maiores nomes da música popular brasileira, Nana cresceu cercada por melodias e aprendeu desde cedo o valor da emoção na arte. Ainda criança, nos bancos escolares, já encantava quem a ouvia com sua voz afinada e intensa.

Seu primeiro registro profissional foi ao lado do pai, com quem gravou “Acalanto”, música composta por Dorival especialmente para ela quando ainda era bebê. Antes da carreira artística, viveu experiências marcantes na vida pessoal: casou-se aos 18 anos com um médico venezuelano e foi morar na Venezuela. Com três filhos pequenos, retornou sozinha ao Brasil e iniciou, na sequência, sua trajetória profissional.

A estreia nos palcos foi impactante: participou do Festival Internacional da Canção de 1966, interpretando “Saveiros”, composta por seu irmão Dori Caymmi. Foi vaiada, mas venceu.

“Eu estava mais preocupada em não desmaiar ali… Agora, eu achei chiquérrimo depois quando vi o tape. Mas dói. De repente, dói”, relembrou anos depois.

Teve um relacionamento marcante com Gilberto Gil, com quem viveu entre 1967 e 1969, até o exílio do cantor. Nana nunca seguiu os modismos. Preferiu cantar o que sentia — e como sentia. Sua interpretação carregava uma dramaticidade que se tornou sua marca registrada. Gravou obras-primas de autores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Aldir Blanc, Braguinha, Milton Nascimento e Roberto Carlos.

Um dos momentos mais emblemáticos de sua carreira aconteceu em 1991, quando dividiu o palco com o pai Dorival, os irmãos Danilo e Dori, e Tom Jobim no Rio Show Festival. Em 2004, os irmãos Caymmi receberam o título de cidadãos baianos. Emocionada, Nana dedicou a homenagem aos pais, dizendo: “Eu fiquei o tempo todo pensando no meu pai e na minha mãe e não tem condição de falar nada”.

TRILHA SONORA – NOVELAS E SÉRIES

A voz de Nana Caymmi também esteve presente em trilhas sonoras de novelas e minisséries da TV Globo. Em 1998, a voz de Nana estrelou a abertura da minissérie “Hilda Furacão”, com a faixa “Resposta ao tempo”, composta por Aldir Blanc e Cristovão Bastos (ouça trecho no vídeo abaixo).

Em 2020, durante a pandemia, lançou seu último álbum, dedicado inteiramente às canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes — uma despedida delicada e à altura de sua história.

Nana Caymmi não foi apenas uma cantora. Foi uma intérprete de almas, sentimentos e silêncios. Sua voz — comovente, poderosa e absolutamente singular — seguirá viva para sempre na memória da música brasileira.

 

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